20 fevereiro, 2008

Real(idade)

|| Não sei mais o que é real, não se como me sinto é normal, não sei mais de onde vim, não sei mais o que vem aí. Rimas tornam-me humano mas a prosa descreve-me a alma. E esta? Será que existe? Existo? Porque penso? Porque respiro? Porque bate o coração? Porquê esta vida de merda? Sei que sou eu que estou a escrever, sei que é real quem isto vai ler, não sei mais de mim, tenho medo de ficar assim, amar a vida como amei torna-se cada vez mais difícil. Sinto um afastar egocêntrico das pessoas que me querem bem. E estas? Será que existem? Será que vale a pena lutar? Diagnóstico: Depressão. Não me parece que um ser depressivamente perturbado não consiga ver o mundo como ele é na realidade. Não sei qual vai ser o meu último texto, mas quer seja este, quer não, é dedicado a todos que me amaram de coração. Não sinto aquele arrepio característico de uma sensação boa de AMOR, não sinto ódio de nada nem de ninguém, apenas da minha vida e da forma como a vejo ser vivida. A vocês pais que tudo me deram e sei que nunca me deixarão, a ti mana que depois dos arrufos ficas sempre no coração, a vocês Irmandade que me elevaram em ascensão como num trono de leão, a ti Abuelito que apesar de avô me tratas como irmão, Reis, André, Gu, Guedes acham que vale a pena falar de vocês? Não... Kliff, muitas ondas te esperarão, Di, 1º amor, amizade de longa duração, Sofia e Aninha, coração de lampião, obrigadas pela luz que e iluminou na escuridão, Xinga minha deusa, tens-me na mão e a ti Abuelita, longe mas separados apenas por um véu, olha por mim então. ||


14 fevereiro, 2008

Existência(L)

Crise existencial é quando todas aquelas perguntas que você sabe que não têm a menor importância na sua vida se tornam definitivas e fundamentais para cada um dos seus próximos passos. Quem sou eu, pra que existo, existe um Deus, por que me preocupar pelos outros...? São todas perguntas legais e interessantes... são a fonte de milhares de horas de conversa... mas por um certo ponto de vista, são também completamente irrelevantes ao dia-a-dia de cada um. Para este dia-a-dia, talvez algumas respostas bem simples (não necessariamente correctas) bastem: vivemos porque não estamos mortos, existimos para sobreviver, Deus existe para que não tenhamos que pensar em como isto tudo surgiu e devemos ser bons uns com os outros porque esta é uma regra social que, no limite, garante um ciclo virtuoso. Mas porque, então, entramos em crise existencial? Talvez porque nem sempre seja um problema psicológico, talvez pelo vício de questionar e pensar, talvez por falta do que fazer... Mas talvez ainda porque somos muito cobrados a agir "da forma correcta", um "correcto" exógeno ao nosso próprio eu, tão difícil de definirmos. Na ânsia de entender essa "forma correcta" e agir dentro destes parâmetros... temos uma necessidade desenfreada de buscar o conhecimento do sistema em que nos encontramos, para que possamos tomar atitudes "certas" dentro desta realidade. E é curioso que muitas vezes fugimos completamente desta "forma correcta", para não termos de nos enquadrar neste paradigma de mundo imposto, mas sem querer caimos numa outra espécie de crise existencial, por abandonarmos o convívio social usual, quando então nosso "eu" passa a gritar pela necessidade de vivência em grupo. Nisso, muitas vezes abandonamos todo o senso de preservação apenas para nos enquadrarmos num grupo que não siga os parâmetros normais "correctos". A crise então passa a ser encontrar justificações para não vivermos nos padrões "normais". Como disse Renato Russo, "Era provar ao mundo que eu não precisava de provar nada a ninguém"...


11 fevereiro, 2008

| Lágrima de Preta |

Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhai-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

António Gedeão

Crónicas de Ridick(ulo)

Por: Jóni Costa


Para quê este verde?

Desde o começo do passeio, que me perguntava timidamente ‘Porquê todo este verde?’, porquê tanto cuidado com a natureza e tretas assim, que tanto se falam e discutem hoje em dia? Está aí alguém? Não obtinha resposta, até que alguém mais sábio que o nosso inconsciente se sobrepôs e respondeu de forma normal e sentida, ‘Este é o verde que deves conservar para que um dia possas responder ao próximo que por este caminho passar, e se encontrar com a mesma dúvida. Procura a resposta em ti mesmo’, pensei para mim que o esclarecimento não fora o mais claro e directo mas continuei percurso olhando em toda a volta e sempre na expectativa do ‘Mas porquê todo este verde?’, todos falam em cuidar disto, sustentabilidade,[1] por um mundo melhor e coisas assim, quando na verdade este implícito verde existe seja de que maneira for. Procurei, procurei, procurei e lá no fundo encontrei uma resposta, agora sim muito clara e sucinta, que pudesse atender às minhas questões. Todo este verde vem de mim, vem de nós, é útil e agradável aos nossos olhos, podermos ver cada dia uma árvore diferente, podermos olhar para o horizonte e ver que não estamos sós, sim a natureza é uma grande companhia e não…não se mantém sozinha, o vivo verde que todos os dias observamos existe se for conservado, existe se for sustentado por nós, existe porque nós existimos e vive tal como nós vivemos, cada passo em falso provoca desequilíbrios e este imenso verde deixa de ter sustento, até ficar completamente desamparado e, aí sim vamo-nos perguntar ‘E agora, onde foi todo o verde? Onde está toda a alegria que o rodeava? E, ao abrir a janela, fitar o horizonte e não ver nada ali, ouvirás sussurrando uma voz ao ouvido que te diz ‘Eu sou a natureza e graças a ti morri’.




[1] Meio de configurar a civilização e as actividades humanas, de tal forma, que a sociedade possa preencher as suas necessidade e expressar todo o potencial da natureza no presente; não pondo em causa este mesmo potencial no futuro.

08 fevereiro, 2008

a ti

Espero-te em sobressalto, com todas as velas da alma acesas. Espero que te voltes para que o meu deslumbramento se imobilize sobre o teu corpo em movimento, o teu sorriso infinito, desesperadamente infinito como o azul do céu... Não sei que palavras inventar para te puxar para a minha vida.
Junto de ti descobri, de repente, a alegria que trazia numa cave do coração. Deixei de ter caves e sótãos dentro de mim, corredores escuros onde o vento do medo uivava... Vagueio pelos salões e jardins deste castelo onde aconteceu o milagre secreto do nosso encontro... Preciso que saibas que (te) amo arrebatadamente. É isto que preciso que saibas, apenas isto que mais uma vez te direi na linguagem de beijos, saliva e suor que fizemos nossa, à margem de todas as histórias da existência que não sabemos construir.
Antes de te conhecer, eu não sabia entregar-me.
Acendo velas – dez velas que ateiam o lume da tua pele. O teu corpo é o meu palácio. Sempre foi, sempre será... Destapo-te devagar e volto a afogar-me nesse incêndio sublime que a fusão dos nossos corpos compõe. Todo o amor é uma prisão... Uma prisão inventada por nós contra a escancarada brutalidade da vida.
Era o quarto onde a Rainha Santa Isabel morreu... E ali vão as pessoas que precisam de milagres. A nós, o milagre foi-nos dado sem que o tivéssemos pedido. Como um sonho.


Inês Pedrosa

03 fevereiro, 2008

:: antagonia ::















'O berço embala a vida
A cadeira de baloiço embala os sonhos'
por: sr Santos