20 novembro, 2009

sozinho

Acordei, apanhei o metro, cheguei ao aeroporto, apanhei o avião, cheguei a Girona (Barcelona), caminhei, arranjei um quarto de hotel, deixei as malas, caminhei, perdi-me, almocei num banco de parque ao pé de um velhinho com o cigarro à beira da boca, situei-me, voltei ao hotel, tentei descansar, não consegui, saí do hotel, fui ao supermercado, voltei para o hotel, ví 3 episódios de 'entourage', pensei, pensei, pensei, pensei, mandei-te mensagens, falei com os papás no msn, tomei banho, lí umas páginas de um livro, pedí um mapa na recepção, caminhei, encontrei a zona histórica (uma Coimbra em ponto grande), procurei onde iam todas as pessoas com média de idades entre 20 e 25 anos, não cheguei a conclusão nenhuma, tirei fotos, estive a olhar o sino da catedral bater, fumei um cigarro num banquinho do 'boulevard' enquanto os senhores varriam as ruas, sentí cansaço, levantei-me devagar, respirei fundo, caminhei, não me perdi, entrei no hotel, desejei uma boa noite à senhora da recepção (já não era a mesma), pedi a chave do quarto 602, subi o elevador, entrei no quarto, despi-me, lavei as mãos, sentei-me na cama, escrevi isto, adormeci...

'Um animal isola-se para morrer, eu isolo-me para escrever'

16 novembro, 2009

O Portão

Há muito que guardava este espaço em branco para falar de um simples objecto que adoro pela noite ou pelo nascer do sol depois das noites de loucura quando passo por ele. O portão, do lado oposto do muro, na berma da estrada, simples, verde e com ferrugem, tão bonito ao mesmo tempo, estilo colonial e uma pitada de gótico, tão feio de ferro maciço, penso ao olhar para ele, está fechado e não dá acesso a local nenhum, sendo possível passar pelos lados para o campo de terra que lhe compõe as traseiras. Para quê uma coisa enorme e esbelta no nada, tão grande que ninguém repara, porquê naquele local? Porquê as coisas tão belas se deixam assim, abandonadas e a morrer com o passar do tempo? Quem o pôs alí, sentia-se especial por ele ser especial, e agora? Abandonado, permanece alí...a morrer aos poucos, e eu, imune pensador, limito-me a apreciar a sua velhice, sempre na outra berma da estrada, e a agradecer espiritualmente a quem o pôs lá, porque entrou para a minha vida, nunca vou abandonar tal 'coisa', o simples, bonito e feio portão, vou passar por ele e lembrar o que pensei quando permanecia horas a olhar para a sua esbelta postura firme, embora inerte, faz parte de mim, embora verde, está maduro e a envelhecer, mas eu, jamais vou abandonar o que passei alí com ele, e quando caír ou simplesmente o levarem, chorarei porque partiu.

por: Jóni Costa

13 novembro, 2009

morte a medo?

Epícteto:

Ao abraçares o teu filho, é bom dizer para contigo: talvez amanhã já não existas. - Que presságio sinistro nestas palavras! - Nada de sinistro há aí, a simples indicação de um facto natural. Será um presságio sinistro dizer que as searas são para se ceifarem?