Podia começar este texto com a frase 'As palavras custam a sair, não digo o que estou a sentir', mas como o mundinho em que vivemos já é tão feito de cópias, clones e palavras simplesmente homologadas como peças em série de fábrica, começo por dizer que já não sei o que é um reflexo, sei que parece um dos muitos pensamentos existenciais que me atormentavam mas nada tem a ver. Escrevo este texto porque tenho saudades do reflexo da vida, aquele reflexo que existe numa poça de água na estrada ou num rio, não o reflexo do espelho. Esse rapaz tomou a própria natureza por medo e nunca mais a tentou experimentar, ainda agora não percebe porquê, mas continua a tentar perceber. Quando a luta dura tempo, as forças esgotam, mas segundo tudo e todos, o perfeito ser humano tem forças intermináveis, pelo que ele se limita a responder, 'olha o teu reflexo no rio, no dia em que estiver completamente parado e conseguires ver a tua imagem lúcida ,limpa e pura, aí sim, podes dizer, serei eu mesmo?', porque enquanto, a corrente continuar, a vida continuar a dar força à natureza para, por si, dar força ao rio para continuar a correr, um reflexo não pode ser interpretado, disse ele... virou costas e continuou caminho.