29 abril, 2008

Debaixo da Árvore

Não foi debaixo da árvore que te conheci, foi quando contigo vivi, tu Sofia ensinaste-me a viver e penso que aprendi, saltamos da mesma escola e nada sabia de ti, vivemos entre quatro paredes experiências que nunca esqueci, aindate lembras quando saltámos de casa em casa e ficamos numa em que tinhamos tudo alí? Um lugar sereno onde tudo se passava, as nossas subidas ao telhado por entre a janela estreita das águas furtadas que guardam tesouros nossos ainda por abrir. Passou tempo, loucuras. Dessa casa decidimos abolir, mas ficas-te a ver-me partir? Não, vieste comigo e para o que havia de vir. Continuamos vida, sempre a sorrir até que chegou o momento em que tive de caír, seguraste-me pela mão e disseste que esta fase má apenas era passageira, saiste de cá de casa e senti. ligado a hábitos que criamos como família feliz. Não me esqueço de ti e sei que não te esqueces de mim, apesar de eu morar aqui e tu num prédio verde mesmo alí. Aninha, foi debaixo da grade árvore que te conheci, trocamos palavras, vivências e gostei de ti 'Afinal és tu a namorada do Filipe?' 'Sim sou eu' 'Agora sim me lembro de ti'. Com pequenas desconfianças, confiança se formou e me tornou dependente de ti para ser feliz. Lembras de perguntarmos ao polícia 'Praça da Republica?' e respondeu 'É por alí', perdeste-me o porta-moedas, nem sei como não te bati, coisinhas assim que se tornam gigantes embora desvaneçam na memória mas não de mim, connosco formaste a família feliz e agora partiste para o prédio verde mesmo alí. Sabes que estás comigo e que não me deixas caír. Lembras das tropas de elite quando suportamos ansiedades de ambos e dormimos entre músicas de Rui Veloso e de um cd riscado quase a partir, lembras de acordar a meio da noite e de me afligir? Lembras de chorares para mim? Eu lembro, só faltou uma historiazinha para te ver de novo a dormir. Chegou a altura e tiveste que saír, saíste de casa, não do meu coração e tu sabes que sim. Debaixo da grande árvore, naquela tarde sombria estavamos os três, vos conheci e fico feliz por estar aqui, sabendo que o prédio verde das minhas porcas é mesmo alí.
Amo-vos porcas

24 abril, 2008

Jóni + Mika = 1

||| Título dado depois de uma mera discussão entre amigos. Sente-se a saudade, num português corrente, sente-se a falta... De todos os momentos que pareceram perfeitos. Como tu dizes, eu e tu completamos-nos, senti o arrepio de choro quando ouvi isso da tua caneta numa folha de papel rasgada. A saudade ao fim de algum tempo acaba sempre por bater, saudade das cantigas até ao amanhecer, saudade do acordar depois de 3 horas de sono, saudade dos bichos da madeira que invadiam o nosso chão e os nossos colchões que pousavam levemente sobre ele, colocados paralelamente em direcção à janela, saudade de ouvir 'desliga essa merda que tou todo sequinho', saudade de arranjar algo para fazer quando a monotonia apertava, tu próprio o dizes, saudades de sentir o cheiro da carne grelhada e o sabor do milho entremeado no arroz, saudade de ti irmão que por momentos pareces longe e seguíste o teu caminho, saudade das palavras trocadas e do teu abraço, saudade dos tempos felizes e do acordar ao som de 'mondo bongo', saudade de te pedir para ficares no sofá quando se espalhava amor pelo quarto, saudade de ti irmão. Novos rumos apareceram nas nossas vidas, sinto o teu afastamento, mas ao mesmo tempo sinto-te comigo. Quero que saibas que um 'adoro-te' é pouco para descrever o quanto gosto de ti e a saudade que bate dos momentos felizes partilhados. Volta mano, corre desse chalet onde te abrigas em fumos olhando o amanhã. Vem comigo olhar o 'ontem' e deixar morrer a saudade. Vamos ser novamente a conta certa. Vamos renascer mano.
Adoro-te |||

22 abril, 2008

ESTOU ALÉM


Não consigo dominar

Este estado de ansiedade

A pressa de chegar

Pra não chegar tarde

Não sei do que é que eu fujo

Será desta solidão

Mas porque é que eu recuso

Quem quer dar-me a mão


Vou continuar a procurar a quem eu me quero dar

Porque até aqui eu só


Quero quem

Quem eu nunca vi

Porque eu só quero quem

Quem não conheci

Porque eu só quero quem

Quem eu nunca vi

Porque eu só quero quem

Quem não conheci

Porque eu só quero quem

Quem eu nunca vi


Esta insatisfação

Não consigo compreender

Sempre esta sensação

Que estou a perder

Tenho pressa de sair

Quero sentir ao chegar

Vontade de partir

Pra outro lugar


Vou continuar a procurar o meu mundo o meu lugar

Porque até aqui eu só


Estou bem aonde não estou

Porque eu só quero ir

Aonde não vou

Porque eu só estou bem

Aonde não estou

Porque eu só quero ir

Aonde não vou

Porque eu só estou em

Aonde não estou



António Variações - Estou Além

19 abril, 2008

eu

|| Nunca escrevi sobre mim. A gente que aqui passa apenas me julga pela escrita, por isto resolvi escrever algo sobre mim. O meu nome é Jóni Costa, sim, sou português. Tenho 21 anos, bem ou mal vividos dependendo da neura. Fui feliz, tenho e sempre tive tudo o que quis, tenho uma família 6 estrelas, tenho 1 amigo, o meu inconsciente, todos os seus conselhos talvez sejam os melhores para mim apesar de não o perceber na totalidade e parecer que se apodera demais do meu corpo. Sou DJ, amo rock 'n' roll e electrónica. Fisicamente não me vou descrever, nem me devia ter começado a descrever, aliás, o melhor espelho de nós mesmos são os outros. Sou neurótico de profissão, ando neste momento a drogar-me com anti-depressivos, anti-psicóticos e ansioliticos para superar uma fase má nesta merda de vida. Deixo por descrever a minha parte cinzenta à qual estou a tentar chegar novamente. Eu, sou eu mesmo e se a concepção assim o permitisse, era diferente todos os dias. Impossível ou não, não custa tentar. ||


17 abril, 2008

Cosmos

Em tudo há... ou pelo menos devia haver um porquê. Todas as pessoas por quem passo e para quem olho parecem 'não preocupadas' com a vida, quando a vida é em si a maior preocupação. É um Mundinho cheio de 'Porquês' sem resposta, de 'lérias' e de muita, muita dúvida. Se toda a gente se questionasse sobre o mundo, imagino como seria, humanos deambulando dia após dia sempre com a questão 'Vou morrer quando?' 'O que haverá a seguir? 'Estas questões atormentam a vida de toda a gente, mas acreditem, atormenta mais uns que outros. Peguemos na situação da formação do planeta, ou no simples facto de estarmos pendurados numa coisa redonda a que se chama Terra. O que nos sustenta? Como não caímos? Respondem 'Por causa da gravidade' Ah... E quem soube isso pela primeira vez? Questões como estas fazem parte do quotidiano humano, e um grande conselho vos dirijo - Não pensem nisso ou então deixem para quem tem tempo para pensar nisso e para quem acredita que estar pendurado num planeta não é vida... É sim... É a vida, surgiu como surgiu, não interessa e como se costuma dizer, 'o resto é conversa'.

07 abril, 2008

Sentimento

Alguma vez sonhei acordado? Alguma vez comi sem ter fome? Alguma vez pensei no que não devia ser pensado? Alguma vez senti AMOR? Alguma vez pensei que só apenas aos outros acontece? Sim... Já pensei, já vivi com medo, mas continuo a viver, tenho medo de sentir ódio por que me ama, alojado em sentimentos neuróticos e 'não normais'. Permanecer no escuro será a melhor fuga? Será 'esconder' a melhor maneira de me livrar do 'preto' e voltar ao cinzento? Penso em mudar. Será que vale a pena? Será que apenas eu sinto a minha mudança? Será que alguém a sentirá? Será que vale a pena? Será que o sentimento se mantém? Será que vale a pena? Sinto neste momento a liberdade como a 'prisão da vida', onde tudo pode ser feito, pensado, mas ao mesmo tempo punido e julgado. Será assim a vida uma liberdade total? Há quem viva com limites. Será que vale a pena? Há quem largue sentimentos para trás. Será que vale a pena? Há quem não deseje viver, sentir ou fazer. Será que vale a pena? Há quem queira morrer e dizer adeus a todo o 'sentimento'.
Valerá a pena?

02 abril, 2008

o corvo



Edgar Allan Poe
Tradução de Fernando Pessoa (1924)


Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundindo força, eu ia repetindo:
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais."

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, de certo me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo
Tão levemente, batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse os meus ais,
Isto só e nada mais.

Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.
Meu coração se distraia pesquisando estes sinais.
É o vento, e nada mais."